Testemunha e laudo psicológico serão prova
Quando a palmada não deixa marcas, a
aplicação do castigo físico terá de ser comprovada por testemunhas, depoimentos
ou laudos psicológicos. E vai depender da interpretação do juiz responsável
pelo caso. Ele é que definirá se basta um tapa para o pai ou educador ser
considerado um fora da lei ou se a punição será aplicada somente em casos de
reincidência.
Segundo o promotor de Justiça Wilson
Tafner, a Lei da Palmada exclui a necessidade de comprovação da violência por
meio de arranhões, hematomas ou vermelhidão pelo corpo da criança e do
adolescente. 'A definição agora é outra. Castigo corporal passa a ser qualquer
ação que resulte em sofrimento. É o mero uso da força física com a suposta
intenção de educar', explica.
Sem provas documentadas ou
flagrantes, a Justiça pode enfrentar dificuldades para estabelecer culpas e
definir punições, segundo o advogado Nelson Sussumo Shikicima, presidente da
Comissão de Direito da Família da OAB. 'Como consequência, a aplicação da lei
não será fácil. E, então, pode ser que ela nem aconteça na prática', diz.
De acordo com especialistas, evitar a
omissão é outro desafio imposto pela nova legislação. Isso porque a Lei da
Palmada determina que profissionais das áreas da saúde e da educação, como
médicos e professores, relatem às autoridades casos de castigos conhecidos nas
escolas, creches, consultórios ou hospitais. Atualmente, o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) já prevê essa comunicação, até com o pagamento de multa
em caso de omissão (de três a 20 salários mínimos), mas em casos conhecidos de
agressão.
Quando a violência é extrapolada a
ponto de levar a criança ao médico, o caso é facilmente observado e, por isso,
comunicado. O mesmo não ocorre diante de um castigo mais discreto, como um
beliscão ou um puxão de cabelos praticado dentro de casa, sem testemunhas.
Para o promotor Tafner, no entanto, a
aprovação da proposta forçará as pessoas envolvidas na criação de uma criança a
prestar mais atenção no seu comportamento. 'Acredito que isso acontecerá como
um reflexo natural.' O resultado mais importante, porém, segundo ele, é o
preventivo. 'O grande mérito dessa lei deve ser a mudança de mentalidade. Não
acredito que os pais deixarão de impor limites. Isso é absolutamente necessário
para se educar um filho. Mas não é preciso retroagir, apelar à palmada, que só
oferece efeito imediatista e não resolve nada.'
Denúncia. Relatos sobre a aplicação
de castigos contra crianças e adolescentes deverão ser feitos a conselhos
tutelares ou representantes da Justiça, que serão responsáveis pela comprovação
da violência.
As regras para a punição de pais que
usam da violência aguda dentro de casa também continuam as mesmas. Apenas casos
de maus-tratos - e não palmadas - poderão render prisão e perda do poder
familiar.
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